Cenário de Investimentos: Saídas em ETFs de Criptoativos e a Estrutura dos Fundos de Fundos

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O mercado financeiro encerrou o mês de novembro com movimentos expressivos de reajuste de portfólio, especialmente no segmento de ativos digitais nos Estados Unidos. Os fundos negociados em bolsa (ETFs) de Bitcoin à vista reportaram saídas líquidas de US$ 3,48 bilhões, marcando o maior volume mensal negativo desde fevereiro. De acordo com dados da SoSoValue, o setor registrou quatro semanas consecutivas de retiradas a partir do final de outubro, totalizando mais de US$ 4,34 bilhões deixando os fundos nesse período, embora o mês tenha terminado com uma leve recuperação nos dias que antecederam o feriado de Ação de Graças.

Impacto institucional e realização de lucros

O destaque negativo ficou por conta do IBIT, da BlackRock, considerado o maior ETF de Bitcoin em termos de ativos líquidos. O fundo registrou saídas de US$ 2,34 bilhões em novembro e, no dia 18, observou sua maior retirada diária desde o lançamento, somando US$ 523 milhões. Analistas de mercado, contudo, interpretam esses números com cautela. Nick Ruck, diretor da LVRG, avalia que o movimento reflete uma realização de lucros institucional após o rali do Bitcoin para máximas históricas, somado ao rebalanceamento de carteiras típico de fim de ano, e não necessariamente uma perda fundamental de confiança no ativo.

O fluxo acumulado permanece positivo, e o interesse em futuros de Bitcoin continua a crescer, sugerindo que as instituições mantêm posições estruturalmente compradas, porém tornaram-se mais sensíveis ao valuation em meio à incerteza macroeconômica. Atualmente, o fluxo líquido total acumulado dos fundos de Bitcoin dos EUA situa-se em US$ 57,71 bilhões, representando cerca de 6,56% da capitalização total de mercado da criptomoeda.

A mecânica dos fundos de investimento

Enquanto o mercado reage à volatilidade dos ativos finais, é crucial entender as estruturas que permitem a gestão profissional desses recursos. Para investidores que buscam diversificação sem a necessidade de selecionar ativos individualmente, os fundos funcionam como “condomínios” de investidores. Dentro dessa indústria, uma categoria específica se destaca pela sua composição estratégica: os Fundos de Fundos, ou FOFs (do inglês Funds of Funds). Diferentemente dos veículos que compram diretamente ações ou títulos, os FOFs aplicam seus recursos nas cotas de outras carteiras.

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) classifica esses veículos como “Fundos de Investimento em Cotas de Fundos de Investimento” (FIC). A regulação estipula que pelo menos 95% do patrimônio de um FIC deve ser investido em cotas de outros fundos. O objetivo primordial dessa estrutura é oferecer acesso a estratégias sofisticadas de risco e retorno através de um único veículo. O gestor de um FOF não analisa o desempenho de ações específicas, mas sim a consistência e o risco dos gestores de outros fundos que pretende adquirir, podendo focar em um único gestor ou atuar como um fundo multigestor.

Estratégias de distribuição e gestão

A flexibilidade dos FOFs permite arranjos como a estrutura “Master & Feeder”. Nesse modelo, existe um fundo principal (Master), onde os investimentos em ativos são efetivamente realizados, e fundos alimentadores (Feeder), que são FICs que compram apenas cotas do Master. Para as instituições financeiras, essa arquitetura facilita a gestão e permite estratégias comerciais segmentadas. Um banco pode, por exemplo, criar um Feeder para o varejo e outro para o segmento private, cobrando taxas de administração distintas, embora ambos os grupos de clientes acessem a mesma estratégia de investimento do fundo Master.

Novas fronteiras e diversificação

Retornando ao panorama dos ativos digitais, a busca por diversificação continua a impulsionar o lançamento de novos produtos, apesar das saídas observadas nos líderes de mercado. Os ETFs de Ethereum à vista também sofreram, registrando uma saída líquida mensal recorde de US$ 1,42 bilhão. Em contrapartida, ETFs recém-lançados focados em altcoins como Solana e XRP reportaram entradas líquidas semanais desde suas estreias.

Os ETFs de XRP acumularam US$ 666 milhões em entradas, enquanto produtos baseados em Litecoin e Hedera também atraíram capital, ainda que em volumes menores. Isso indica que, embora o capital institucional permaneça concentrado majoritariamente em Bitcoin e Ethereum até que haja maior clareza regulatória, existe apetite por exposição a novos ativos. Reforçando essa tendência de expansão do cardápio de investimentos, a Grayscale está programada para lançar o primeiro ETF de Chainlink à vista, ampliando as opções disponíveis para alocação de recursos no setor.