Queda inédita após 18 meses de alta
Pela primeira vez em um ano e meio, o preço do café ao consumidor caiu no Brasil. Segundo a Reuters, que cita dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o café vinha sendo um dos principais vetores da inflação no país durante esse período. A redução registrada em julho representa um alívio para os consumidores brasileiros após meses de preços inflacionados.
Tarifas de 50% dos EUA ainda não surtiram efeito direto
Apesar da queda nos preços em julho, o setor cafeeiro brasileiro enfrenta um novo desafio: o aumento da tarifa de importação dos Estados Unidos. O ex-presidente Donald Trump estabeleceu, com início em agosto, uma alíquota de 50% sobre produtos importados do Brasil — substituindo a taxa anterior de 10%. Embora essa medida ainda não tenha impactado diretamente os preços registrados no mês passado, seu anúncio no início de julho já causou incertezas no mercado.
Fernando Gonçalves, gerente do IBGE, disse à Reuters que a queda pode estar relacionada ao aumento da oferta de café no mercado interno, e não necessariamente às tarifas americanas. “O efeito da tarifa ainda não pode ser confirmado, já que ela começou a valer apenas este mês”, explicou.
Impacto das tarifas nos consumidores americanos
Mesmo com a produção brasileira em alta, os consumidores nos Estados Unidos já sentem aumento no custo da bebida. O Brasil lidera a produção global de café, com 37% da produção mundial na safra 2024-2025, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Além disso, é o principal fornecedor de café para o mercado americano.
A Câmara de Comércio dos EUA, em análise recente, revelou que só entre maio e junho as tarifas sobre café e chá geraram uma arrecadação de US$ 245,5 milhões, com uma taxa média de 8%. Em comparação, no mesmo período do ano anterior, a tarifa era inferior a 0,3%.
O grupo Tax Foundation também destacou que, com as novas alíquotas, o café será um dos alimentos mais afetados por aumentos de preços. Embora até o momento as empresas americanas estejam absorvendo os custos adicionais, o banco Goldman Sachs prevê que essa situação deve mudar em breve, recaindo sobre os consumidores.
Indústria cafeeira americana adia compras
Como consequência da nova tarifa de 50%, compradores americanos estão adiando pedidos de café brasileiro, conforme informou a Cecafe (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). O presidente da entidade, Marcio Ferreira, afirmou que o setor nos EUA está “em compasso de espera”, aguardando avanços nas negociações comerciais. “Eles têm estoque para 30 a 60 dias, o que lhes permite aguardar um pouco mais”, disse.
Ferreira alertou também que os adiamentos podem prejudicar exportadores que utilizam contratos de câmbio de exportação (ACCs), modalidade de financiamento pré-embarque. “Quando há atraso, o ACC não é cumprido e passamos a sofrer com juros altos, taxas e custos adicionais”, explicou.
Além disso, o mercado futuro atualmente está invertido, ou seja, contratos para entrega em datas mais distantes valem menos que os de curto prazo. Segundo Ferreira, adiar uma remessa de setembro para dezembro pode gerar prejuízo adicional de US$ 10 por saca. “O impacto negativo do adiamento é cumulativo e acentuado”, concluiu.
Exportações brasileiras já mostram retração
Mesmo antes do início da nova tarifa, os embarques de café verde do Brasil caíram 28,1% em julho, comparado ao mesmo mês do ano passado, totalizando 2,45 milhões de sacas de 60 kg, segundo dados da Cecafe. As exportações de café arábica caíram 20,6%, enquanto as de robusta despencaram quase 49%.
Além dos EUA, os principais destinos do café brasileiro incluem Alemanha, Itália e Bélgica. A retração nas exportações preocupa todo o setor, que agora precisa lidar com incertezas externas e pressões internas.